Dois amigos se encontram após longo tempo sem se ver:
- Olá tudo bem? Como tens passado?
- Bem, e você?
- Estou indo, vivendo e procurando entender o que está ocorrendo com nossa sociedade.
- Por quê?
- Ah, você não tem acompanhado o que está acontecendo lá por Brasília?
- Sim, alguma coisa. Mas do que está falando precisamente?
- Eu já vi de tudo em minha vida, ou pensava ter visto, mas acho que o Brasil está mesmo de cabeça pra baixo!
- Então me fala o que o está incomodando.
- Agora virou moda. Tudo é preconceito ou preconceituoso, estão tirando até determinadas cores das letras de antigas músicas, ou não podemos mais falar determinadas palavras, pois estamos correndo o risco de sermos punidos criminalmente.
- Veja você que a senadora Mirta Sacy está querendo criminalizar a baratofobia!
Como o amigo ficou estupefato e olhando pra ele com a boca aberta e os olhos arregalados, continuou.
- Isso mesmo que você está ouvido. Acha ela que várias pessoas têm preconceito contra as baratas porque estas coitadas vivem em ambientes imundos e contaminados e, quando tentam sair desses lugares são assassinadas sumariamente com uma pisada ou uma chinelada.
Chocado o amigo disse: - Acho que o mundo está louco mesmo. Mas não acredito no que estás falando.
- Pode acreditar. E pior, qualquer um pode denunciar o baratofóbico e, pela proposta da senadora, o crime será punido com prisão em flagrante. Matar barata só escondido e tem que dar fim ao corpo - talvez o jogando na privada.
- Se isso for aprovado será o fim das firmas de dedetização, disse com um misto de ironia e indignação.
- Avaliando a situação pelo aspecto evolucionista é normal que espécies não adaptadas sucumbam.
- Sim, é normal, mas as baratas estão ultra bem adaptadas e de alguma forma elas cumprem o seu papel no ciclo da vida.
- Ah sim, roer roupas e assustar mulheres medrosas, caindo logo em seguida na gargalhada.
- Isso tudo mostra o quanto é ridículo essa história de preconceito. Você pode não gostar e não aceitar as baratas, qual o problema? Só não pode é querer exterminá-las! Só não pode é ter ódio delas! Afinal, não precisamos ser budistas para entendermos que toda vida tem uma razão de ser, mesmo que não concordemos com ela.
- É cara, você tem razão. Estamos confundindo preconceito com aceitar ou não determinadas situações. O pior é que estamos criando leis que em pouco tempo vão nos impedir de usar a língua para expressar nossas ideias e opiniões, pois podemos ser taxados de preconceituosos e criminalizados.
- Percebeu a enrascada em que pessoas como a senadora Mirta Sacy estão nos colocando. Que sociedade é essa que estamos criando?
- E sabe de uma coisa. Você conhece aquela canção de ninar: “Boi, boi, boi, boi da cara ......., pega essa menina que tem medo de careta”. Percebeu que engoli uma palavra?
- Sim, por quê? Ficou faltando a palavra...
- Não, não fale, pois se alguém ouvir você pode ser preso em flagrante!
Os dois se olharam por algum tempo, como se tomados por uma sensação muito ruim e por um sentimento de falta de liberdade, que lhes esvaziava o peito.
Liberdade não se conquista com cerceamento de ideias, nem com bloqueio às expressões, mas com troca de opiniões e principalmente com respeito. O fato de não aceitarmos certas coisas não indica que somos maus, ou que queremos ver o fim daquilo. Toda a opinião tem que ser respeitada, independente se for contrária ou a favor. É exatamente ai que a dificuldade começa, pois existem pessoas que só veem como a pura verdade suas opiniões.
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